quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Cinja-me de folhas secas

Cinja-me de folhas secas,
Cinja-me em suas verdades,
de folhas secas_
Secas que se quebram ao tocá-las
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Cinja-me de folhas secas
E de folhas da alvorada.
E basta.

Coroai-me de rosas por Ricardo Reis

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade,
De rosas —
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

Jornada

Eu sei tudo sobre vida e morte.
Fui deixada na estrada à porta da minha consciência.
Subjugada pelas fortes dores, corri de mim em plena ciência.
Quebrado e destruído está o meu odre.

Coloquem-me no isolamento.
Constituo ameaça com meus profundos questionamentos.
Resolvi deixar de ser o que não sou...
Mas ainda guardo meus segredos, oculto toda a dor.

Dor de ser o que é...
Dor de viver sem querer a dor do outro.
Em minha angústia, desejei o melhor para mim.
Revelei o que ansiei: me autodestruir.

As palavras condenam os que as escrevem em público.
Rasgue sua alma e se entregue as vaias dos covardes.
Revele suas chagas e antecipe sua jornada
Deixe-me só, busco escrever minhas ambigüidades.

Vivo meu isolamento intelectual.
Sentada a beira de um poço choro meus devaneios
Vi o reflexo do que sou...
Poço, guarde contigo a subjetividade da minha dor...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Um dia

Perco um dia de vida a cada dia que passa por mim.
Longe se vão os dias da mocidade.
Foi assim que me perdi no labirinto onde não há paz.
Preciso aceitar o que perdi
Perdi e me perdi entre paredes sombrias
Os dias que não voltam lembram do que sou feita.
Feita de dias frios, da frieza natural.
Não sou boa
Meus fracassos recordam os dias perdidos...
Posso ainda achá-los em terras amargas.
Cultivarei uma árvore seca e nunca me preocuparei com seus frutos...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Fragmento

Acordei com a faísca da esperança.
Permiti-me sonhar com as rajadas do Who knows.
Incólume acordei do devaneio,
Dormente e de costas para a fantasia abracei minha realidade.

Volto-me para o que sou,
Estou,não vou, nada sobrou... cacos completam-me.
Nunca seria nada além de um medíocre fragmento.
Nunca restou nada além dos restos que me tragou.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A Aurora

Quem somos nós neste mundo complicado?
De outono é feito meus dias,
As folhas caem
Tão mortas quanto eu.

Esqueça as horas,
Os nomes,
Seu nome,
A voz...vozes...vorazes

Lembro da aurora, mas sobrevivo
Dos meus crepúsculos
Traga-me a aurora polar dos outros planetas
Assim viverei mais uma vez.
Caindo como as folhas
Neste mundo complicado

Devedor

Demito-me...de viver.
Abro concordata dos meus sonhos mais valiosos.
Silencio a falência que há tempos habita em mim.
Como um desgraçado devedor respiro o ar poluído da derrota,
Cansado estou desde o dia que corri da felicidade.

Na manhã de sol vi lugares desconhecidos,
Voltei para minhas neblinas.
Vergonha há para os que não cansam de invejar os afortunados,
Ver a pobreza dos outros me aflige.

Ainda sinto o palpitar do meu coração
Mesmo sem que eu queira que ainda trabalhe,
Sufocado do dia após dia vive a certeza do esquecimento.
Não há de ser nada ser ninguém.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Peçonhentas

Quando vivi na ignorância acovardei-me.
Sentada na mesa das serpentes ansiei pelos dias de alienação.
Sinto a ofiofobia natural de me sentir seu alimento.
Em meio à digestão deles, sou cuspida como o resto...
Restou apenas ser entorpecida mais uma vez por seus venenos.

Saudades da ignorância adormecida pelo sono eterno.
O saber mata os que não têm escamas.
Em posição de ataque os peçonhentos se preparam.
Munidos do amor aos valores,
Avaliam o potencial das vitimas.

Aguardo em meus sintomas às picadas fatais...
Não há soro para o mal de viver entre as serpentes.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Inaptidão

Alimento para o ser é a inesgotável busca da aceitação.
Inerte paira ao olhar as ruas desertas da noite triste.
O sossego é um segundo de um olhar atento.
A inaptidão dos sentimentos o coroou.

Um dia olhou a inexatidão de seu caráter.
Choraria as lágrimas que o fariam voltar a si...
Talvez a lucidez tenha viajado em um adeus eterno
Quisera tivéssemos mentes dignas dos bem-aventurados

De olhos fechados mirei o espelho.
Refletiu o esquecimento das mazelas passadas...
Vi o fantasma que busca escapar a cada suspiro.
Fugir não seria possível, pois sou feita do pior de mim.
.................. dou adeus, mas sempre volto ao reflexo daquele espelho.............

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Predestinado

Condenado as horas de aflições
Os espectros sussurram os limites da estória.
Não tenho forças para sucumbir à absoluta soberania dos corretos.
Leve-me ao monte dos escravos,
E liberte-me da utopia da escolha.

Predestinei-me à efêmera alegria.
Predestinei-me às longas noites dos temerosos.
Predestinei-me a vontade contínua,
Insondável estou para os escolhidos.
Não compreensível ao vosso entendimento
Vago entendendo-me e rejeitando-me.

Ser

Acorrentado aos erros e culpas,
Vive a vegetativa vida.
Seu ser misógino busca amar o reflexo.
Liberte-se de seu destino.
Predestinado aos questionamentos,
Enfraqueceram-se os ossos pelas constantes dores.
Dor do ser, dor sem cura.

Volte e olhe atrás do vale...
Estará lá seu passo rumo ao desespero.
Busque-se enquanto ainda há tempo.
Respire e no simples soslaio
Olhe para trás e solte erros e culpas.
Liberte a dor do ser.
Se duvidar haver ainda cura para ti... desista.